Você já pensou no que faz parte do seu bem-estar? Segundo Tal Ben-Shahar, PhD em psicologia e filosofia na universidade de Harvard, a felicidade é uma combinação de cinco elementos: bem-estar físico, emocional, intelectual, relacional e espiritual.
Uma das áreas dedicadas a estudar esse assunto é a psicologia positiva. À medida que esse campo se expandia, outros campos começaram a entender como era possível aplicar fatores relacionados ao bem-estar em seu campo de trabalho, incluindo a arquitetura.
A ciência da felicidade, por exemplo, diz que o bem-estar e o estilo de vida são importantes para nossa felicidade. E os arquitetos se perguntaram: se o bem-estar é importante para a felicidade, como posso projetar espaços que estimulam isso de formas saudáveis? ”explica Gustavo Arns, pesquisador da felicidade e especialista em bem-estar
Sejam residenciais ou comerciais, esses empreendimentos têm como princípio primordial o bem-estar físico, mental e a qualidade de vida em geral.
Para atingir esse objetivo, vários fatores são considerados na hora de construir um espaço que evoque os melhores sentimentos em seus moradores. A preocupação emerge desde o início com os materiais de construção e onde o edifício será erguido. Outro aspecto é a incidência de luz e ventilação natural.
Além disso, um dos destaques da área é o contato com a natureza, trazendo o cultivo de plantas e jardins para a parte interna do empreendimento.
Um empreendimento em Porto Alegre, que tem o contato com a natureza como um de seus pontos essenciais é o condomínio Pão de Açúcar 279, projetado pelo arquiteto Ricardo Dias e construído pela Michelon Construtora e Incorporadora. Localizado às margens do Lago Guaíba, o complexo conta com seis casas que contam com terraço aberto e fechamentos envidraçados que potencializam a conexão dos moradores com o ambiente ao seu redor.
“Inicialmente tínhamos um desafio comercial por ser um local com pouco movimento de pessoas. No início foi difícil comunicar essa ideia, mas depois que os quadros subiram e conseguimos levar clientes, as casas venderam muito rápido. A paisagem e o contacto privilegiado com a natureza são os pontos que mais chamam a atenção”, comenta Ricardo Dias sobre o projeto.
Mas o investimento em áreas de lazer também é um ponto crucial, a ideia é oferecer aos moradores um belo edifício conectado com a região, mas com conforto e bem-estar.
O escopo também inclui iniciativas que garantem a sustentabilidade do local, como o compromisso de reduzir a produção de resíduos ou o investimento em energia solar e outras formas de energia limpa.
Os apartamentos presentes neste tipo de projeto costumam contar com amplo living e/ou terraço, além de vista panorâmica. As áreas comuns investem em espaços amplos, conforto e sofisticação, que ficam ainda mais atraentes e receptivas com paisagismo composto por plantas nativas, espelhos d'água, paredes verdes e muxarabis.
Há uma crescente demanda por edifícios que oferecem design superior, exclusividade, conforto e sofisticação. Para atender a essa expectativa, cada vez mais vemos projetos que aliam sofisticação, conforto e simpatia.
Hoje, existe até a certificação WELL, que mostra ao público que determinado espaço ou negócio foi projetado, construído e mantido para promover a saúde, a felicidade, o bem-estar e a produtividade de seus usuários. Para receber o certificado, as edificações devem atender a dez categorias: qualidade do ar, água, nutrição, luz, movimento, conforto térmico, som, materiais, mente e comunidade.
No entanto, muitos dos projetos certificados ainda são edifícios comerciais. “No Brasil, temos certificações de sustentabilidade, mas muito mais em projetos comerciais. Talvez no futuro veremos essa preocupação entrando também nos projetos residenciais”, afirma Robinson Silva, sócio-diretor do GRI Club Real Estate.
Segundo o Global Wellness Institute, esse movimento começou a se espalhar no início do século 21, impulsionado por vários outros movimentos que surgiram no século passado, como a construção de casas de bem-estar e spas, discussões sobre alimentação mais saudável e questões como sustentabilidade - porque todos esses tópicos de alguma forma estão relacionados ao nosso bem-estar.
“O tema imobiliário de bem-estar tornou-se mais discutido desde 2017 com fóruns e eventos chegando ao mercado para trazer esse visual. Não que não existisse antes, mas era mais implícito, não tinha esse nome e esse conceito”, enfatiza Robinson Silva.
A pandemia também afetou o crescimento desse mercado, pois foi nesse período que as pessoas começaram a reavaliar seu estilo de vida e hábitos. “Reconectamos e redefinimos o significado de nossa casa e tempo. A casa virou um local de autoatendimento”, diz a arquiteta Lia Galera sobre o momento da pandemia.
Além disso, nossas casas se tornaram espaços multifuncionais: com modelos híbridos de trabalho, o home office é uma tendência que veio para ficar. A prática de exercícios físicos e a melhoria dos hábitos alimentares também exigem espaços específicos e mais bem preparados para essas atividades. Tudo isto significava que a nossa casa tinha de ser um espaço bem pensado e que proporcionasse bem-estar.
A economia do bem-estar é uma indústria global composta por negócios divididos em 11 setores: medicina preventiva e saúde pública; saúde mental; atividade física; turismo de bem-estar; medicina tradicional e complementar; alimentação saudável e nutrição; cuidados pessoais e beleza; termas; águas termais; ambiente de trabalho focado em bem-estar e propriedades de bem-estar.
Dados do Global Wellness Institute mostram que o mercado de bem-estar como um todo gera uma economia de US$ 4,4 trilhões, o equivalente a aproximadamente R$ 22,8 trilhões a preços atuais. Desse montante, aproximadamente R$ 1,4 trilhão é destinado a empreendimentos imobiliários de bem-estar com foco em empreendimentos residenciais e comerciais de bem-estar.
O Brasil está atualmente entre os 11 mercados mais importantes do segmento de bem-estar, com uma economia de R$ 429,5 bilhões. Porém, grande parte deste setor é voltado para as áreas de alimentação saudável e nutrição, cuidado pessoal e beleza, medicina preventiva e saúde pública, atividade física e turismo de bem-estar. Isso significa que os empreendimentos de wellness real estate ainda representam uma parcela mínima em solo brasileiro.
Para se ter ideia, a economia wellness dos países da América Latina e Caribenha é de aproximadamente R$ 1,2 trilhão – sendo o Brasil o líder do grupo. Porém, o segmento de wellness real estate fica em última posição quanto ao investimento, detendo uma economia de R$ 3,1 bilhão. Mesmo com o valor expressivo, os empreendimentos residenciais e comerciais com foco em bem-estar ainda são um mercado em fase de crescimento, principalmente no Brasil.
Em termos de comparação, o mercado de wellness da América do Norte, formado apenas pelos Estados Unidos e Canadá, movimenta um valor de R$ 6,8 trilhões. Deste montante, R$ 616 bilhões vêm do segmento de wellness real estate, que ocupa o sexto lugar no ranking dos setores.
É possível afirmar que um dos grandes desafios do segmento de wellness real estate é o seu preço. “O valor da construção nesses dois últimos anos esteve em patamares recordes”, comenta Robinson Silva. Segundo dados do IBGE, o preço do metro quadrado construído no Brasil atingiu a média de R$ 1.363,41 em abril de 2022.
Além disso, os empreendimentos com foco em bem-estar fazem este preço crescer ainda mais, sendo um incentivador para alavancar os valores de venda, já que existem investimentos dentro do projeto que agregam valor à construção de forma mais perceptível.
Por conta destes fatores, os projetos de wellness real estate ainda têm pessoas com alto poder aquisitivo como público principal.
“O segmento residencial de alto padrão ganhou bastante atração. O público de alta renda gera uma demanda grande para o setor e, por isso, há uma oferta mais qualificada”, diz o sócio-diretor do GRI Club Real Estate. “O desafio de democratizar este acesso está no alto custo da construção e a viabilidade financeira do empreendimento”, completa.
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